Porque Deus nunca desaparecerá?
Estará o nosso cérebro programado para acreditar?
A fé, remédio milagroso contra a ansiedade?
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Os trabalhos dos neuroteólogos começam agora a dar os primeiros resultados. É certo que precisam ainda de ser aprofundados, mas o que revelam é para já espectacular: na origem da propensão para a fé estará... a serotonina, uma substância que, no cérebro, transmite a informação de um neurónio para o outro (um neurotransmissor, portanto), e sobre a qual se sabe já que está implicada nas sensações de fome, de sede e de sono.
Uma verdadeira descoberta, que vem dar força a uma intuição que surgiu no início do ano 2000. Nesta data, os neuroteólogos tomaram conhecimento de trabalhos que aparentemente não tinham nada a ver com o assunto em causa: estudos, dirigidos por biólogos nos anos noventa, sobre os efeitos no cérebro das drogas ditas «psicadélicas» (LSD, etc.). Ora, estas pesquisas indicam que a serotonina pode criar estados similares aos produzidos por estas drogas, tais como modificações da percepção sensorial, alucinações, sensação de fusão com o mundo... ou seja, nem mais nem menos do que as sensações que os místicos dizem experimentar durante os seus estados extáticos. «Descobriu-se que o cérebro reage às moléculas do LSD e da psilocibina [molécula presente num «cogumelo mágico»] como se se tratasse de serotonina, porque as suas estruturas moleculares são muito parecidas com esta última», explica o biólogo Olivier Cases (Unidade Inserm 106, Hospital da Pitié-Salpêtrière, Paris). «Devido a esta semelhança, estas drogas conseguem induzir artificialmente uma libertação em massa de glutamato, um neurotransmissor que assegura a transmissão de informações sensoriais, fazendo-se passar pela serotonina.» O que, no fim de contas, provoca as alterações de percepção... Daí a pôr a hipótese de que as experiências místicas «naturais», ou seja, sem influência de drogas, poderiam ser provocadas pela serotonina foi um passo.
Mas ainda faltava demonstrá-lo! E em 2003 foi vencida uma etapa crucial neste sentido. Sob a orientação da neurobióloga Jaqueline Borg e da sua equipa (Universidade Karolinska de Estocolmo, Suécia), uma experiência que envolvia 15 voluntários estabeleceu que a tendência para ver o mundo como habitado pelo divino - uma tendência baptizada de «religiosidade» pelos investigadores - depende efectivamente da taxa de serotonina.
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