sábado, 2 de fevereiro de 2013

A Criação e a Regressão

VERSO: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu Lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3:15).
Um comediante costumava interpretar uma personagem feminina chamada Geraldina, esposa de um pastor. Em um monólogo: Ela havia voltado para casa com um vestido novo muito caro. O marido dela (também interpretado pelo mesmo comediante) ficou irado. Geraldina, em seguida, gritou em resposta: “O diabo me fez comprar esse vestido! Eu não queria comprá-lo, mas o diabo insistiu tanto!”
Isso devia ser engraçado. Mas nosso mundo e o mal que nele existe mostram que Satanás não é nada engraçado.
 Para algumas pessoas, a ideia do diabo é uma antiga superstição que não deve ser levada a sério. A Escritura, no entanto, é inequívoca: embora Satanás seja um inimigo derrotado (Ap 12:12; 1Jo 3:8), ele está aqui na Terra, determinado a causar tanto caos e destruição quanto possível contra a criação de Deus.
 Nesta semana, consideraremos o ataque original de Satanás e o que podemos aprender com isso, de modo que, enquanto estamos ainda sob seus assaltos, possamos suplicar a vitória que é nossa em Cristo.
 A serpente foi mais astuta
1. Leia Génesis 3:1. Como é descrito o caráter de Satanás? Como a verdade dessa representação é revelada nesse verso?
A astúcia da serpente é vista na sua forma de introduzir a tentação. O inimigo não fez um ataque direto, mas tentou envolver a mulher na conversa. Observe que as palavras da serpente incluem pelo menos dois aspectos problemáticos. Primeiro, ela perguntou se Deus realmente fez uma declaração específica. Ao mesmo tempo, apresentou sua pergunta para levantar dúvidas sobre a generosidade de Deus. “Será que Deus realmente negou a você todas as coisas? Ele não lhe deu permissão para comer de toda árvore do jardim?” Ao citar de modo intencional e incorreto as instruções divinas, a serpente incitou a mulher a corrigir sua declaração, e conseguiu atraí-la para a conversa. A estratégia da serpente certamente foi “astuta”.
Nada disso deveria ser surpreendente. Jesus chamou o diabo de mentiroso e pai da mentira (Jo 8:44). Em Apocalipse 12:9, o diabo engana todo o mundo, o que significa que nenhum de nós está seguro, mesmo entre os adventistas do sétimo dia. Satanás, obviamente, não perdeu nada de sua astúcia e engano. Ele ainda usa a estratégia que foi bem-sucedida com Eva. Ele levanta questões sobre a Palavra e as intenções de Deus, esperando suscitar dúvidas e nos envolver em sua “conversa”. Devemos ser vigilantes (1Pe 5:8) a fim de resistir aos seus enganos.
2. Compare Mateus 4:3-10 com Génesis 3:1. Que estratagema semelhante Satanás utilizou com Jesus, e por que falhou? Que lições aprendemos com a resposta de Jesus aos ataques do inimigo? De que forma Satanás nos tenta?
 A mulher e a serpente
3. Como a mulher respondeu à serpente? Que erros ela cometeu? Gn 3:2, 3
Embora Eva conhecesse claramente a ordem de Deus, o que realça sua culpa, ela fez uma declaração que foi além do que Deus havia dito, pelo menos conforme o registro bíblico. Deus tinha instruído Adão e Eva claramente a não comer da árvore. Nada havia sido dito sobre não tocá-la. Visto que não sabemos o que a levou a dizer isso, é melhor não especular sobre suas causas. No entanto, não há dúvida de que, ao pensar que não deveria tocar no fruto, ela estaria menos inclinada a comê-lo, porque ela não poderia comer o que não pudesse tocar.
 Muitas vezes nos deparamos com a mesma situação: alguém apresenta ensinamentos que, na maioria dos pontos, estão em harmonia com as Escrituras. Os poucos pontos que não estão de acordo com a Bíblia podem arruinar tudo. O erro, mesmo misturado com a verdade, ainda é erro.
4. Que repreensão Jesus deu aos escribas e fariseus sobre a adição de pensamento humano à Palavra de Deus? Quais são os perigos de criar regras que supostamente nos protegerão contra o pecado? Mt 15:7-9; compare com Ap 22:18; Cl 2:20-23
O problema com o pecado não é a falta de regras, mas um coração depravado. Mesmo na sociedade secular, muitas vezes ouvimos pedidos de mais leis contra o crime, quando já existem leis suficientes. Não precisamos tanto de novas leis quanto de novos corações.
De que forma poderíamos estar em perigo de seguir as coisas sobre as quais somos alertados aqui? Normas baseadas em princípios bíblicos são essenciais. A questão é: Como podemos ter certeza de que as normas e regras que aplicamos não nos desviarão do caminho? Comente com a classe.
Enganados pela Evidência
5. Leia Génesis 3:4-6. Que princípios levaram Adão e Eva à queda? O que aprendemos com sua experiência que pode nos ajudar a lidar com as tentações que enfrentamos?
Satanás foi bem-sucedido em envolver Eva no diálogo e em levantar dúvidas sobre o que Deus havia dito e por quê. Depois, ele disse a Eva que Deus não estava dizendo a verdade e apresentou uma suposta explicação para o motivo pelo qual Deus os havia proibido de comer do fruto. De acordo com Satanás, Deus estava negando algo bom para manter Adão e Eva abaixo de seu pleno potencial. Ao fazer isso, Satanás desenvolveu sua questão anterior quando perguntou se Deus havia negado a eles todas as árvores.
 Eva utilizou três linhas de evidência que a levaram à conclusão de que ela se beneficiaria ao comer do fruto. Primeiro, ela viu que a árvore era boa para se comer. Talvez ela tivesse observado a serpente comendo o fruto e comentando sobre seu sabor agradável. É interessante que, apesar da orientação para que Adão e Eva não comessem, ela percebeu que o fruto era bom “para se comer”. Que tremendo conflito entre os sentidos e um claro “Assim diz o Senhor”!
Uma segunda linha de evidência que convenceu Eva a comer do fruto foi que ele era agradável aos olhos. Sem dúvida, todos os frutos do jardim eram bonitos, mas por alguma razão, Eva foi especialmente atraída para o fruto que Satanás ofereceu a ela.
 O suposto poder do fruto para trazer sabedoria foi uma terceira razão que levou Eva a desejar comê-lo. A serpente assegurou que, ao comer do fruto, ela teria seu conhecimento ampliado e se tornaria igual a Deus. A triste ironia foi que, de acordo com a Bíblia, ela já era igual a Deus (Gn 1:27).
 Somos informados de que Eva foi enganada, mas Adão não (1Tm 2:14). Se Adão não foi enganado, por que ele comeu? Adão desobedeceu a Deus conscientemente, escolhendo seguir Eva, em vez de Deus. Quantas vezes esse mesmo tipo de comportamento é visto hoje? Muito facilmente podemos ser tentados pelo que os outros dizem e fazem, ainda que suas palavras e ações sejam contrárias à Palavra de Deus. Adão deu ouvidos a Eva em vez de dar ouvidos a Deus, e o resto é o pesadelo conhecido como história humana (Rm 5:12-21).
Graça e julgamento no Éden – parte 1
Em Génesis 3, depois da queda, as palavras iniciais do Senhor são perguntas: “Onde estás? [...] Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? [...] Que é isso que fizeste?” (Gn 3:9, 11, 13).
6. Em contraste com isso, a primeira afirmação de Deus no capítulo 3, Sua primeira declaração de fato, segue essas perguntas. Ao falar com a serpente, o que Deus disse, e qual é o significado de Suas palavras? Gn 3:14, 15
Pense nas implicações do que aconteceu ali. A primeira declaração de Deus para o mundo caído foi, de fato, uma condenação a Satanás, e não à humanidade. Na verdade, mesmo nessa condenação de Satanás, Deus deu à humanidade a esperança e a promessa do evangelho (v. 15). Ao declarar a condenação de Satanás, Ele proclamou a esperança da humanidade. Apesar do pecado de Adão e Eva, o Senhor lhes revelou imediatamente a promessa de redenção.
 Note igualmente que, somente após essa promessa, só depois que a esperança da graça e da salvação foi dada no verso 15 (conhecido também como a “primeira promessa evangélica”), o Senhor pronunciou o juízo sobre Adão e Eva: “E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos [...] E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher [...]” (Gn 3:16, 17).
 Não deixe de entender este ponto: a promessa da salvação vem primeiro, e depois o juízo. O juízo é apresentado unicamente no contexto do evangelho. Caso contrário, o juízo não significaria nada, exceto condenação, mas as Escrituras são claras: “Deus enviou o Seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele” (Jo 3:17, RC).
Por que é tão importante sempre meditar no fato de que o propósito de Deus é nos salvar, não nos condenar? Como o pecado nos leva a perder de vista essa verdade fundamental? Isto é, como o pecado nos afasta de Deus?
 Graça e julgamento no Éden – parte 2
Em Génesis 1 e 2, Deus pronuncia declarações (ou imperativos), como: “Haja luzeiros no firmamento dos céus [...] Produza a terra seres viventes [...] Não é bom que o homem esteja só.” Todas essas declarações tratam da criação e do estabelecimento da humanidade nessa criação. Como vimos ontem, a declaração seguinte registrada na Bíblia ocorre em Génesis 3:14, 15, na qual o Senhor oferece o evangelho à humanidade.
 Assim, nas Escrituras, as declarações iniciais de Deus lidam com a criação e com a redenção. Essa redenção ocorre no contexto do próprio juízo. Teria que ser assim. Afinal, qual seria o propósito do evangelho, quais seriam as “boas-novas”, se não houvesse juízo, nenhuma condenação da qual pudéssemos ser salvos? O próprio conceito do “evangelho” traz em si mesmo a noção de condenação, uma condenação que não precisamos enfrentar. Essa é a “boa-nova”!
Embora tenhamos violado a lei de Deus e apesar de sabermos que Deus julgará essas violações, em Cristo Jesus somos poupados da condenação que esse juízo, inevitavelmente, traria.
7. Criação, evangelho e juízo aparecem não apenas nas primeiras páginas da Bíblia, mas nas últimas também. Leia Apocalipse 14:6, 7. De que maneira esses versos estão relacionados com os três primeiros capítulos de Génesis? Isto é, que ideias paralelas são encontradas nesses versos?
Em Apocalipse 14:6, 7, vemos uma declaração de Deus como Criador, um tema fundamental nas páginas iniciais de Génesis. Em Apocalipse 14, no entanto, o “evangelho eterno” vem em primeiro lugar, sendo seguido pelo anúncio do juízo, como em Génesis 3. O juízo está ali, mas não antes do evangelho. Assim, o fundamento da nossa mensagem da verdade presente tem que ser a graça, a boa-nova de que, apesar de merecermos a condenação, podemos ser perdoados, purificados e justificados por meio de Jesus. Sem o evangelho, nosso destino seria o mesmo da serpente e de sua descendência, diferente do destino da mulher e de sua semente. E algo maravilhoso: Essa grande notícia já apareceu no Éden, na primeira declaração de Deus ao mundo caído.
 Estudo adicional
Deus deu aos nossos primeiros pais o alimento que pretendia que a humanidade comesse. Era contrário ao Seu plano que se tirasse a vida a qualquer criatura. Não devia haver morte no Éden” (Ellen G. White, Conselhos para a Igreja, p. 228).
“Satanás apresenta a divina lei de amor como uma lei de egoísmo. Declara que nos é impossível obedecer-lhe aos preceitos. A queda de nossos primeiros pais, com toda a miséria resultante, ele a atribui ao Criador, levando os seres humanos a olhar a Deus como autor do pecado, do sofrimento e da morte. Jesus devia patentear esse engano” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 24).
“Entretanto o homem não ficou abandonado aos resultados do mal que havia escolhido. Na sentença pronunciada sobre Satanás era já sugerida uma redenção. [...] Essa sentença proferida aos ouvidos de nossos primeiros pais foi para eles uma promessa. Antes de ouvirem acerca dos espinhos e cardos, de trabalhos e tristezas que deveriam ser o seu quinhão, ou do pó a que deveriam voltar, ouviram palavras que não poderiam deixar de lhes dar esperança. Tudo que se havia perdido, rendendo-se a Satanás, poderia ser recuperado por meio de Cristo” (Ellen G. White, Educação, p. 27).
Perguntas para reflexão
 1. Temos criado regras e tradições que podem nos tornar semelhantes às pessoas que Jesus condenou? Ao mesmo tempo, que compromissos podemos assumir para seguir mais intensamente os princípios da verdade?
 2. Eva confiou nos próprios sentidos, em vez de confiar numa ordem muito clara de Deus. Por que para nós é tão fácil fazer a mesma coisa?
 3. Algumas culturas julgam ser tolice a ideia de um diabo literal; outras, em contrapartida, podem ser obcecadas com o poder do mal e dos espíritos malignos. Como é em sua cultura? Como você pode aprender a encontrar equilíbrio ao lidar com a realidade das batalhas sobrenaturais em que nos encontramos?
Respostas sugestivas:
1. Ele é astuto, por isso distorceu as palavras de Deus. 2. Seduzir Jesus a não depender do Pai, pelo ato de transformar pedras em pães e usar um milagre em proveito pessoal, pela sugestão para que Ele Se lançasse do pináculo do templo e pelo convite para adorar ao diabo. O inimigo foi vencido porque Jesus enfrentou as tentações com a Palavra de Deus. 3. A mulher disse que podia comer do fruto de todas as árvores, exceto da árvore que estava no meio do jardim, mas disse que não podia tocar na árvore, o que Deus não havia dito. O principal erro dela foi se deter na conversa com Satanás e desconfiar do Senhor. 4. Chamou-os de hipócritas, porque adoravam ao Senhor apenas com palavras e não com o coração. Cumpriam mandamentos de homens e não a lei de Deus. Há uma maldição para quem acrescenta ou tira partes da revelação de Deus. As tradições humanas podem prejudicar nossa vida espiritual. 5. Creram na mentira de Satanás: podiam pecar e não morreriam. Duvidaram de Deus, desejaram ser iguais a Ele e conhecer os segredos do Senhor. Cobiçaram a beleza e o sabor do fruto. 6. A serpente recebeu uma maldição maior do que todos os animais: ela teria que rastejar e comer pó. Deus colocaria inimizade entre a serpente e a mulher, o Descendente da mulher feriria a cabeça da serpente e a serpente feriria o calcanhar do Descendente da mulher. 7. O evangelho eterno chama todas as nações da Terra a temer, glorificar e adorar o Criador, evitando assim a condenação do juízo. O evangelho, o Criador e o juízo de Apocalipse são os mesmos de Gênesis.

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