VERSO FUNDAMENTAL: “Porei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu Lhe
ferirás o calcanhar” (Gn 3:15).
Um comediante costumava interpretar uma personagem feminina
chamada Geraldina, esposa de um pastor. Em um monólogo: Ela havia voltado para
casa com um vestido novo muito caro. O marido dela (também interpretado pelo
mesmo comediante) ficou irado. Geraldina, em seguida, gritou em resposta: “O
diabo me fez comprar esse vestido! Eu não queria comprá-lo, mas o diabo
insistiu tanto!”
Isso devia ser engraçado. Mas nosso mundo e o mal que nele
existe mostram que Satanás não é nada engraçado.
Para algumas pessoas,
a ideia do diabo é uma antiga superstição que não deve ser levada a sério. A
Escritura, no entanto, é inequívoca: embora Satanás seja um inimigo derrotado
(Ap 12:12; 1Jo 3:8), ele está aqui na Terra, determinado a causar tanto caos e
destruição quanto possível contra a criação de Deus.
Nesta semana, consideraremos o ataque original de Satanás e o que podemos aprender com isso, de modo que, enquanto estamos ainda sob seus assaltos, possamos suplicar a vitória que é nossa em Cristo.
A serpente foi mais astuta
1. Leia Génesis 3:1.
Como é descrito o caráter de Satanás? Como a verdade dessa representação é
revelada nesse verso?
A astúcia da serpente é vista na sua forma de introduzir a
tentação. O inimigo não fez um ataque direto, mas tentou envolver a mulher na
conversa. Observe que as palavras da serpente incluem pelo menos dois aspectos
problemáticos. Primeiro, ela perguntou se Deus realmente fez uma declaração
específica. Ao mesmo tempo, apresentou sua pergunta para levantar dúvidas sobre
a generosidade de Deus. “Será que Deus realmente negou a você todas as coisas?
Ele não lhe deu permissão para comer de toda árvore do jardim?” Ao citar de
modo intencional e incorreto as instruções divinas, a serpente incitou a mulher
a corrigir sua declaração, e conseguiu atraí-la para a conversa. A estratégia
da serpente certamente foi “astuta”.
Nada disso deveria ser surpreendente. Jesus chamou o diabo
de mentiroso e pai da mentira (Jo 8:44). Em Apocalipse 12:9, o diabo engana
todo o mundo, o que significa que nenhum de nós está seguro, mesmo entre os
adventistas do sétimo dia. Satanás, obviamente, não perdeu nada de sua astúcia
e engano. Ele ainda usa a estratégia que foi bem-sucedida com Eva. Ele levanta
questões sobre a Palavra e as intenções de Deus, esperando suscitar dúvidas e
nos envolver em sua “conversa”. Devemos ser vigilantes (1Pe 5:8) a fim de
resistir aos seus enganos.
2. Compare Mateus
4:3-10 com Gênesis 3:1. Que estratagema semelhante Satanás utilizou com
Jesus, e por que falhou? Que lições aprendemos com a resposta de Jesus aos
ataques do inimigo? De que forma Satanás nos tenta?
3. Como a mulher
respondeu à serpente? Que erros ela cometeu? Gn 3:2, 3
Embora Eva conhecesse claramente a ordem de Deus, o que
realça sua culpa, ela fez uma declaração que foi além do que Deus havia dito,
pelo menos conforme o registro bíblico. Deus tinha instruído Adão e Eva
claramente a não comer da árvore. Nada havia sido dito sobre não tocá-la. Visto
que não sabemos o que a levou a dizer isso, é melhor não especular sobre suas
causas. No entanto, não há dúvida de que, ao pensar que não deveria tocar no
fruto, ela estaria menos inclinada a comê-lo,
Muitas vezes nos
deparamos com a mesma situação: alguém apresenta ensinamentos que, na maioria
dos pontos, estão em harmonia com as Escrituras. Os poucos pontos que não estão
de acordo com a Bíblia podem arruinar tudo. O erro, mesmo misturado com a
verdade, ainda é erro.
4. Que repreensão Jesus deu aos escribas e fariseus sobre a
adição de pensamento humano à Palavra de Deus? Quais são os perigos de criar
regras que supostamente nos protegerão contra o pecado? Mt 15:7-9; compare com
Ap 22:18; Cl 2:20-23
O problema com o pecado não é a falta de regras, mas um
coração depravado. Mesmo na sociedade secular, muitas vezes ouvimos pedidos de
mais leis contra o crime, quando já existem leis suficientes. Não precisamos
tanto de novas leis quanto de novos corações.
De que forma poderíamos estar em perigo de seguir as coisas
sobre as quais somos alertados aqui? Normas baseadas em princípios bíblicos são
essenciais. A questão é: Como podemos ter certeza de que as normas e regras que
aplicamos não nos desviarão do caminho? Comente com a classe.
Enganados pela
evidência
5. Leia Génesis 3:4-6. Que princípios levaram Adão e Eva à
queda? O que aprendemos com sua experiência que pode nos ajudar a lidar com as
tentações que enfrentamos?
Satanás foi bem-sucedido em envolver Eva no diálogo e em
levantar dúvidas sobre o que Deus havia dito e por quê. Depois, ele disse a Eva
que Deus não estava dizendo a verdade e apresentou uma suposta explicação para
o motivo pelo qual Deus os havia proibido de comer do fruto. De acordo com
Satanás, Deus estava negando algo bom para manter Adão e Eva abaixo de seu
pleno potencial. Ao fazer isso, Satanás desenvolveu sua questão anterior quando
perguntou se Deus havia negado a eles todas as árvores.
Eva utilizou três
linhas de evidência que a levaram à conclusão de que ela se beneficiaria ao comer
do fruto. Primeiro, ela viu que a árvore era boa para se comer. Talvez ela
tivesse observado a serpente comendo o fruto e comentando sobre seu sabor
agradável. É interessante que, apesar da orientação para que Adão e Eva não
comessem, ela percebeu que o fruto era bom “para se comer”. Que tremendo
conflito entre os sentidos e um claro “Assim diz o Senhor”!
Uma segunda linha de evidência que convenceu Eva a comer do
fruto foi que ele era agradável aos olhos. Sem dúvida, todos os frutos do
jardim eram bonitos, mas por alguma razão, Eva foi especialmente atraída para o
fruto que Satanás ofereceu a ela.
O suposto poder do
fruto para trazer sabedoria foi uma terceira razão que levou Eva a desejar
comê-lo. A serpente assegurou que, ao comer do fruto, ela teria seu
conhecimento ampliado e se tornaria igual a Deus. A triste ironia foi que, de
acordo com a Bíblia, ela já era igual a Deus (Gn 1:27).
Somos informados de
que Eva foi enganada, mas Adão não (1Tm 2:14). Se Adão não foi enganado, por
que ele comeu? Adão desobedeceu a Deus conscientemente, escolhendo seguir Eva,
em vez de Deus. Quantas vezes esse mesmo tipo de comportamento é visto hoje?
Muito facilmente podemos ser tentados pelo que os outros dizem e fazem, ainda
que suas palavras e ações sejam contrárias à Palavra de Deus. Adão deu ouvidos
a Eva em vez de dar ouvidos a Deus, e o resto é o pesadelo conhecido como
história humana (Rm 5:12-21).
Graça e julgamento no
Éden – parte 1
Em Génesis 3, depois da queda, as palavras iniciais do
Senhor são perguntas: “Onde estás? [...] Quem te fez saber que estavas nu?
Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? [...] Que é isso que
fizeste?” (Gn 3:9, 11, 13).
6. Em contraste com isso, a primeira afirmação de Deus no
capítulo 3, Sua primeira declaração de fato, segue essas perguntas. Ao falar
com a serpente, o que Deus disse, e qual é o significado de Suas palavras? Gn
3:14, 15
Pense nas implicações do que aconteceu ali. A primeira
declaração de Deus para o mundo caído foi, de fato, uma condenação a Satanás, e
não à humanidade. Na verdade, mesmo nessa condenação de Satanás, Deus deu à
humanidade a esperança e a promessa do evangelho (v. 15). Ao declarar a
condenação de Satanás, Ele proclamou a esperança da humanidade. Apesar do
pecado de Adão e Eva, o Senhor lhes revelou imediatamente a promessa de
redenção.
Note igualmente que,
somente após essa promessa, só depois que a esperança da graça e da salvação
foi dada no verso 15 (conhecido também como a “primeira promessa evangélica”),
o Senhor pronunciou o juízo sobre Adão e Eva: “E à mulher disse: Multiplicarei
sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos
[...] E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher [...]” (Gn 3:16,
17).
Não deixe de entender
este ponto: a promessa da salvação vem primeiro, e depois o juízo. O juízo é
apresentado unicamente no contexto do evangelho. Caso contrário, o juízo não
significaria nada, exceto condenação, mas as Escrituras são claras: “Deus
enviou o Seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o
mundo fosse salvo por Ele” (João 3:17, RC).
Por que é tão importante sempre meditar no fato de que o
propósito de Deus é nos salvar, não nos condenar? Como o pecado nos leva a
perder de vista essa verdade fundamental? Isto é, como o pecado nos afasta de
Deus?
Graça e julgamento no Éden – parte 2
Em Génesis 1 e 2, Deus pronuncia declarações (ou
imperativos), como: “Haja luzeiros no firmamento dos céus [...] Produza a terra
seres viventes [...] Não é bom que o homem esteja só.” Todas essas declarações
tratam da criação e do estabelecimento da humanidade nessa criação. Como vimos
ontem, a declaração seguinte registrada na Bíblia ocorre em Génesis 3:14, 15,
na qual o Senhor oferece o evangelho à humanidade.
Assim, nas
Escrituras, as declarações iniciais de Deus lidam com a criação e com a
redenção. Essa redenção ocorre no contexto do próprio juízo. Teria que ser
assim. Afinal, qual seria o propósito do evangelho, quais seriam as
“boas-novas”, se não houvesse juízo, nenhuma condenação da qual pudéssemos ser
salvos? O próprio conceito do “evangelho” traz em si mesmo a noção de
condenação, uma condenação que não precisamos enfrentar. Essa é a “boa-nova”!
Embora tenhamos violado a lei de Deus e apesar de sabermos
que Deus julgará essas violações, em Cristo Jesus somos poupados da condenação
que esse juízo, inevitavelmente, traria.
7. Criação, evangelho e juízo aparecem não apenas nas
primeiras páginas da Bíblia, mas nas últimas também. Leia Apocalipse 14:6, 7.
De que maneira esses versos estão relacionados com os três primeiros capítulos
de Génesis? Isto é, que ideias paralelas são encontradas nesses versos?
Em Apocalipse 14:6, 7, vemos uma declaração de Deus como
Criador, um tema fundamental nas páginas iniciais de Génesis. Em Apocalipse 14,
no entanto, o “evangelho eterno” vem em primeiro lugar, sendo seguido pelo
anúncio do juízo, como em Génesis 3. O juízo está ali, mas não antes do
evangelho. Assim, o fundamento da nossa mensagem da verdade presente tem que
ser a graça, a boa-nova de que, apesar de merecermos a condenação, podemos ser
perdoados, purificados e justificados por meio de Jesus. Sem o evangelho, nosso
destino seria o mesmo da serpente e de sua descendência, diferente do destino
da mulher e de sua semente. E algo maravilhoso: Essa grande notícia já apareceu
no Éden, na primeira declaração de Deus ao mundo caído.
Estudo adicional
Deus deu aos nossos primeiros pais o alimento que pretendia
que a humanidade comesse. Era contrário ao Seu plano que se tirasse a vida a
qualquer criatura. Não devia haver morte no Éden” (Ellen G. White, Conselhos
para a Igreja, p. 228).
“Satanás apresenta a divina lei de amor como uma lei de
egoísmo. Declara que nos é impossível obedecer-lhe aos preceitos. A queda de
nossos primeiros pais, com toda a miséria resultante, ele a atribui ao Criador,
levando os seres humanos a olhar a Deus como autor do pecado, do sofrimento e
da morte. Jesus devia patentear esse engano” (Ellen G. White, O Desejado de
Todas as Nações, p. 24).
“Entretanto o homem não ficou abandonado aos resultados do
mal que havia escolhido. Na sentença pronunciada sobre Satanás era já sugerida
uma redenção. [...] Essa sentença proferida aos ouvidos de nossos primeiros
pais foi para eles uma promessa. Antes de ouvirem acerca dos espinhos e cardos,
de trabalhos e tristezas que deveriam ser o seu quinhão, ou do pó a que
deveriam voltar, ouviram palavras que não poderiam deixar de lhes dar
esperança. Tudo que se havia perdido, rendendo-se a Satanás, poderia ser
recuperado por meio de Cristo” (Ellen G. White, Educação, p. 27).
Perguntas para
reflexão
1. Temos criado
regras e tradições que podem nos tornar semelhantes às pessoas que Jesus
condenou? Ao mesmo tempo, que compromissos podemos assumir para seguir mais
intensamente os princípios da verdade?
2. Eva confiou nos
próprios sentidos, em vez de confiar numa ordem muito clara de Deus. Por que
para nós é tão fácil fazer a mesma coisa?
3. Algumas culturas
julgam ser tolice a ideia de um diabo literal; outras, em contrapartida, podem
ser obcecadas com o poder do mal e dos espíritos malignos. Como é em sua
cultura? Como você pode aprender a encontrar equilíbrio ao lidar com a
realidade das batalhas sobrenaturais em que nos encontramos?
Respostas sugestivas:
1. Ele é astuto, por isso distorceu as palavras de Deus. 2. Seduzir Jesus a não
depender do Pai, pelo ato de transformar pedras em pães e usar um milagre em
proveito pessoal, pela sugestão para que Ele Se lançasse do pináculo do templo
e pelo convite para adorar ao diabo. O inimigo foi vencido porque Jesus
enfrentou as tentações com a Palavra de Deus. 3. A mulher disse que podia comer
do fruto de todas as árvores, exceto da árvore que estava no meio do jardim,
mas disse que não podia tocar na árvore, o que Deus não havia dito. O principal
erro dela foi se deter na conversa com Satanás e desconfiar do Senhor. 4.
Chamou-os de hipócritas, porque adoravam ao Senhor apenas com palavras e não
com o coração. Cumpriam mandamentos de homens e não a lei de Deus. Há uma
maldição para quem acrescenta ou tira partes da revelação de Deus. As tradições
humanas podem prejudicar nossa vida espiritual. 5. Creram na mentira de
Satanás: podiam pecar e não morreriam. Duvidaram de Deus, desejaram ser iguais
a Ele e conhecer os segredos do Senhor. Cobiçaram a beleza e o sabor do fruto.
6. A serpente recebeu uma maldição maior do que todos os animais: ela teria que
rastejar e comer pó. Deus colocaria inimizade entre a serpente e a mulher, o
Descendente da mulher feriria a cabeça da serpente e a serpente feriria o
calcanhar do Descendente da mulher. 7. O evangelho eterno chama todas as nações
da Terra a temer, glorificar e adorar o Criador, evitando assim a condenação do
juízo. O evangelho, o Criador e o juízo de Apocalipse são os mesmos de Génesis.
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