sábado, 28 de novembro de 2009

TRÊS NÍVEIS DE OBJECÇÕES ANTROPOLÓGICAS À EVOLUÇÃO

R. Clyde McCone - é Ph.D., Professor de Antropologia na Califórnia State University, Long Beach 90801, U.S.A.

Os antropologistas discordam entre si quanto a qualquer aplicação particular das explicações evolucionistas. Apesar disto, tendem a aceitar a ideia geral da evolução, sem questionar. Pode-se mostrar que os dados acerca da evolução ou são emprestados ou são gerados pelas hipóteses. As hipóteses uniformistas de uma ordem existente mostram-se inconsistentes com a tentativa de explicação das origens daquela ordem. A evolução torna-se bem sucedida somente pela deificação da natureza, introduzindo nela o mistério inescrutável que se situa além da ciência e da mente humana. O seu tratamento deificante da natureza material constitui um valor e não uma teoria científica.
Com boa razão, muitas pessoas, leigos e profissionais, têm identificado a Antropologia com a evolução. Falar de objecções antropológicas à evolução, a muitas pessoas assemelhar-se-á a fazer objecções científicas à ciência. O que se pode esperar de forma recorrente são objecções bíblicas à evolução. Infelizmente, a grande maioria das objecções religiosas à evolução têm sido baseadas mais em emoções humanas e tradições do que nas Escrituras, e em consequência têm gerado mais calor do que luz.
Se porventura pareço incongruente ou presunçoso a alguns leitores ao apresentar objecções antropológicas à evolução, desejaria que fossem considerados os dois factos seguintes a respeito da Antropologia e dos antropologistas.
Primeiramente, que, embora nenhum antropologista ponha em dúvida a evolução, não há nenhuma explicação evolucionista particular oferecida por um antropologista, que não tenha a oposição de alguns outros. Isso é verdade tanto na Antropologia Física quanto na Cultural.
A segunda observação é que, nas três primeiras décadas do século XX, muitos antropologistas culturais dos Estados Unidos, e muitos antropologistas sociais da Grã-bretanha, ou se opuseram à evolução, ou não a consideraram como estrutura útil para explicação. Leslie White (1) diz a respeito desse período “... uma importante reversão de acontecimentos teve lugar nos círculos antropológicos; uma reacção vigorosa contra a teoria da evolução teve início. Nos Estados Unidos esse movimento foi dirigido por Franz Boas”. Vemos, pois, que objecções à evolução em geral, e a quaisquer explicações evolucionistas especificas, são e foram registadas dentro da Antropologia.
Deve ser reconhecido, entretanto, que a estrutura evolucionista hoje em dia está crescentemente em voga na Antropologia. O trabalho de White é uma forte “reacção contra a reacção” anti-evolucionista da primeira parte deste século. O seu trabalho, num contexto de muitos outros factores, grandemente, minimizou, se não eliminou, a tendência anti-evolucionista da Antropologia. De fato, oposição explícita à evolução é mais fácil de ser encontrada supondo-se ignorância dos dados pelos indivíduos, raciocínio preconcebido ou não educado, ou oposição supersticiosa à ciência.
Ainda assim, é nesses três níveis que desejo destacar o que espero mostrar serem objecções antropológicas à evolução. Essas objecções são antropológicas porque:
(1) relacionam-se abertamente com o problema dos dados;
(2) relacionam-se conscientemente com o exercício da razão;
(3) ligam-se com os critérios científicos da teoria.
Usarei uma definição de evolução dada por um antropologista cultural, aplicável também a fenómenos biológicos: “A evolução pode ser definida como uma sequência temporal de formas, uma forma derivando de outra, a cultura progredindo de um estágio para outro” (2). A evolução tenta também ligar os estágios dos inanimados aos estágios da vida. Os estágios da vida ligam-se também aos estágios da cultura. Todo o processo é utilizado para supostamente explicar a ordem existente na natureza e no homem.
Dois outros conceitos que são básicos para a compreensão de minhas objecções encontram-se nos adjectivos: sincrónico e diacrónico.
Sincrónico tem relação com uma ordem contínua de fenómenos. É a abordagem dos cientistas naturais pela qual as mesmas regularidades que são observadas hoje provavelmente ocorreram ontem e ocorrerão amanhã. Pode-se esperar que a reacção química HCl + NaOH ? H2O + NaCl, verdadeira há cem anos, continuará verdadeira nos próximos cem anos. O tempo, observamos, não é um factor, embora esteja envolvido no processo. A abordagem sincrónica é portanto uma abordagem que supõe uma ordem existente predizível.
Diacrónico tem relação com as transformações temporais. É a abordagem dos historiadores para mudar o estado ou a organização das ordens. Observa-se que a quantidade de sal ou sais dissolvidos nos oceanos muda em função do tempo. A história dessa alteração é uma abordagem diacrónica e relaciona-se com o passado do actual estado da ordem existente, mas não necessariamente com uma alteração na própria ordem subjacente.

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