sábado, 28 de novembro de 2009

SEGUNDA OBJECÇÃO: RAZÃO E LÓGICA

R. Clyde McCone - é Ph.D., Professor de Antropologia na Califórnia State University, Long Beach 90801, U.S.A.


A minha segunda objecção antropológica à evolução é ser ela intrinsecamente irracional. Os evolucionistas frequentemente atribuem a pecha de irracionais aos que a eles se opõem. É o que fez Goudge, por implicação, quando afirma: “Nenhuma pessoa razoável familiarizada com a evidência, pode duvidar de que o homem é um produto da evolução” (13). Mostrei que não há evidência para o processo diacrónico de evolução, e tentarei agora mostrar que a ideia da evolução transgride as exigências da razão.
Primeiramente, a essência da característica irracional encontra-se na tentativa de aplicar o princípio do uniformismo, da abordagem sincrónica da ciência, à explicação evolucionista dos fenómenos diacrónicos ou temporais. Acha-se uma clara afirmativa sobre o princípio do uniformismo no trabalho de Berry “Growth of a Prehistoric Time Scale” (Crescimento de uma escala de tempo pré histórica): ... “Processos e funções naturais observáveis hoje têm estado a ocorrer da mesma maneira básica que nos tempos passados” (14). Goudge descreve essa aplicação sem reconhecer o problema irracional.
Um outro exemplo ... é o “princípio uniformista” ... A sua função é tornar possível a extrapolação regressiva no tempo, de resultados obtidos a partir da pesquisa dos organismos existentes hoje. O princípio afirma, em linhas gerais, que factores e leis descobertos agora como sendo operativos no domínio biológico, foram operativos através de toda, ou da maior parte da história da vida. Um evolucionista tem de aceitar esse princípio, se tiver de empregar as descobertas de ciências como a Genética, para construir explicações sistemáticas dos fenómenos do passado remoto. Se não aderir, a sua teoria não funciona. Mas novamente, a situação tem de ser entendida em termos mais do que instrumentais, pois a doutrina da evolução deixaria de ser inteligível não fosse o princípio do uniformismo descrever o caso. Deve ser verdadeiro que os factores e leis biológicas que se reconhecem hoje como operativos, estiveram em acção no passado. É essa uma afirmação incapaz de ser demonstrada dentro da teoria evolucionista, porque ela funciona como uma pressuposição metafísica daquela teoria(15).
Hipóteses e pressuposições metafísicas não devem ser desacreditadas como tais. Constituem elas uma parte necessária do desenvolvimento de todo o conhecimento científico. O factor irracional é encontrado quando a necessária pressuposição metafísica se acha incongruente com a própria teoria.
O princípio sincrónico de uniformismo envolve o conceito de que acontecimentos ocorridos na natureza, no passado, presente e futuro, têm lugar uniformemente. Sem essa hipótese, o universo seria caprichoso e os cientistas não poderiam fazer generalizações.
No entanto, quando essa hipótese é utilizada numa explicação diacrónica de como as coisas vieram a existir, ela se torna-se inerentemente inconsistente, pois fazer isto implica a hipótese de que as coisas no passado ocorreram como as coisas são observadas, embora as coisas observadas ainda não fossem existentes. Os evolucionistas supõem que pelo menos algumas das regularidades do presente não existiam no passado, ao mesmo tempo em que utilizam o princípio uniformista como se todas as coisas no passado ocorressem de conformidade com as regularidades hoje observadas.
Para tornar o nosso raciocínio mais específico os evolucionistas supõem que em certa época não existia o fenómeno homem; portanto, as coisas no passado não aconteceram em termos deste fenómeno. Por outro lado, fenómenos que hoje existem estavam em operação para trazer o homem à existência, muito embora não se observem hoje tais fenómenos operando para produzir o mesmo resultado.
Indo mais além na escala evolutiva, os evolucionistas suporiam que as regularidades biológicas, hoje em operação, em certa época não estiveram operando porque ainda não tinham vindo à existência. Assim novamente todas as coisas no passado não estiveram ocorrendo de conformidade com as regularidades observadas hoje, excepto naturalmente as regularidades de natureza inorgânica. Entretanto, estas últimas estiveram em operação, mas não de conformidade com processos actualmente observados, pois estavam em operação, para produzir vida.
Suponhamos, contudo, que forcemos a escala evolutiva para uma conclusão lógica e razoável, e procuremos as origens do inorgânico. Nesse ponto, nenhum dos processos que nós observamos hoje estaria em operação. Nesse ponto, as hipóteses do uniformismo, de que os evolucionistas têm-se apossado como pressuposição metafísica, estariam totalmente eliminadas pelas hipóteses diacrónicas da própria evolução. Os evolucionistas, portanto, para utilizar o princípio básico do uniformismo, devem tomar duas decisões racionalmente insustentáveis:
(1) Decidir que parte das regularidades da natureza hoje observáveis operaram no passado para trazer à existência todas as demais regularidades. Essas regularidades deveriam ter feito então o que hoje não mais fazem, constituindo assim uma violação do princípio do uniformismo.
(2) Decidir até que ponto a hipótese uniformista retroagirá antes de ser totalmente negada.
A incongruência entre o princípio do uniformismo e a evolução leva-nos a focalizar nossa atenção na transição entre as três grandes categorias: (a) matéria; (b) vida; e (c) cultura. Kroeber, e muitos antropologistas desde então, tem-se referido a essas categorias como o inorgânico, o orgânico, e o super orgânico. Já mostramos que estão ausentes os dados de transição dentro das subdivisões destas categorias.
A suposta transição de uma categoria para outra tem exigido um tremendo esforço de imaginação. Como afirmado anteriormente, não se deve desconfiar da imaginação e da especulação meramente devido ao fato de se constituírem em especulações. É o carácter irracional da especulação que constitui a base para objecção.
(a) – Matéria
O problema da origem da primeira categoria, a de matéria, produziu uma ampla gama de respostas que não podem preencher os critérios da racionalidade. Exemplificarei com três delas somente para ilustrar:
(1) A teoria da explosão inicial na qual uma molécula grandemente concentrada de matéria pré-universo explode para produzir o actual universo material ordenado.
(2) O universo material como produto de uma nuvem de poeira primordial que presumivelmente era matéria.
(3) A posição mais racional das três, em que os teóricos racionalmente desistem de tratar deste problema, considerando-o além do poder de raciocínio do homem.
Todas estas, bem como as teorias do regime permanente e do regime cíclico, apresentam-nos matéria existente eternamente, e negam portanto as origens que tentam explicar. O deus do materialismo é obviamente inerente a elas.
Como se pode, porém, racionalmente explicar o início da vida ou do homem numa certa época, a partir de matéria existente eternamente? Como poderia ela existir eternamente sem produzir vida, e então, em certa época, produzir o que não houvesse produzido durante toda a eternidade? Talvez uma eternidade de ciclos em que universos e humanidade surgissem a desaparecessem fosse a única resposta consistente.
(b) – Vida
O problema da evolução da matéria para a vida pode não ser tão frustrante para a mente especulativa, embora não se apresente sem características irracionais. Num programa documentário do “National Geographic” recentemente televisionado, falou-se para os espectadores sem a mínima sombra de dúvida, que em alguma época do obscuro e distante passado duas moléculas gigantes se uniram tornando-se reprodutivas. A vida, que depende de um código genético para sua reprodução, e que, unicamente ela, produz o código genético, é apresentada como vinda à existência por uma congruência fortuita dos constituintes materiais da vida. Não sou biologista, mas os argumentos apresentados contra isso pelo Dr. Duane Gish têm sido racionalmente convincentes para mim (16).
Entretanto, gostaria de ilustrar a irracionalidade da evolução neste ponto referindo-me a outro biologista, George Wald. No número de Agosto de 1954 do “Scientific American”, Wald apresenta o seu raciocínio em um artigo intitulado “A Origem da Vida”. Aí Wald apresenta a moderna evidência científica, como estabelecida por Pasteur e outros, contra a geração espontânea da vida.
Ele mostra então como a complexidade dos fenómenos da vida fazem ficar além da imaginação pensar que pudesse ter surgido a vida por acaso a partir do inanimado. Sobre isso diz então: “Apesar disso, aqui estamos - como resultado, creio, da geração, espontânea” (17). Sua razão para essa crença é o fato de recusar-se a aceitar a única alternativa. Wald expõe seus motivos:
O ponto de vista razoável foi crer na geração espontânea; a única alternativa era crer num ato inicial único de criação sobrenatural. Não há uma terceira posição. Por esta razão há um século muitos cientistas escolheram encarar a crença na geração espontânea como uma necessidade filosófica. ... A maior parte dos modernos biologistas, tendo visto com satisfação a queda da hipótese da geração espontânea, e não desejando aceitar a crença alternativa na criação especial, fica sem nada (18).
Embora a racionalidade dessa escolha de uma fé não seja demonstrada, o seu carácter irracional é visível na sua defesa.
Wald inicia supondo que “a cada acontecimento pode-se associar uma probabilidade” (19). Usa ele como modelo de acontecimento a queda de uma moeda. É esse, entretanto, um acontecimento observável, repetível. A geração espontânea da vida não é dessa natureza; de fato, não foi sequer estabelecido por Wald nesse ponto de argumentação, como constituindo ela um acontecimento.
Apesar disso, continua ele raciocinando que, não importa quão pequena a probabilidade de ocorrer um acontecimento, é ela aumentada pelo número de tentativas ou do tempo envolvido. Se a probabilidade é de somente uma em um bilhão para um acontecimento ocorrer em um ano, seria quase uma certeza a sua ocorrência em um bilhão de anos. Entretanto, Wald assim procede sem estabelecer a probabilidade da geração espontânea ocorrer em um ano ou em bilhões de anos. A chave para essa posição irracional é que não há probabilidade possível de ser estabelecida para esse acontecimento, em qualquer período de tempo. E zero multiplicado por qualquer número de anos permanece ainda zero.
(c) – Cultura
Finalmente, a tentativa de especular a respeito da transição da vida pré-cultural para a cultural, ou dos animais inferiores para o homem, está repleta do mesmo carácter irracional. White diz sobre a origem da cultura:
Podemos supor que a cultura veio à existência da seguinte maneira: a evolução neurológica em uma certa linha, ou linhas, dos antropóides, culminou finalmente na habilidade para simbolizar. O exercício dessa habilidade trouxe à existência a cultura, perpetuando-a em seguida (20).
Não obstante, o homem hoje, com tais faculdades, depende da associação com outros que possuam linguagem e cultura, não somente para sobreviver, mas para aprender uma linguagem e a cultura a ela associada. White quis dizer que o homem, possuindo a faculdade de simbolizar, sem cultura, criou a cultura, e então passa a afirmar que é a cultura que determina o homem, e que o homem não pode sequer modificar a cultura, e muito menos criá-la.
É nessa espécie de círculo vicioso que os pensadores especulativos caem sempre que tentam usar o princípio sincrónico do uniformismo em um esforço evolucionista para ligar as três grandes categorias de matéria, vida e cultura.

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