Imagens, imagens, imagens. Vemo-las em toda a parte. Vemo-las
em todas as formas. Outrora eram esculpidas em pedra. Mas hoje, a tecnologia
nos dá diferentes aparelhos para criá-las e dar-lhes vida. Movem, falam, gritam,
voam, comem, cantam e se alegram. As indústrias cinematográfica, de televisão e
de computação prosperam pela nossa obsessão por imagens.
Mas, talvez, o fato mais surpreendente na história de imagens
é que podemos finalmente interagir com elas de modo nunca dantes imaginados.
Ainda recentemente, o presidente Barack Obama interagiu com um robô no Japão.
Podemos criá-las, modificá-las, comunicar com elas e destruí-las. As imagens
modernas são tão próximas do real que nos referimos a elas como “realidade
virtual”.
Assim parece mais fácil para seres humanos lidarem com
imagens do que com a realidade mesma. Mas se nos movemos para o plano cósmico,
a questão fundamental é de imagem versus realidade, falsidade versus verdade.
No pensamento adventista do sétimo dia, o grande conflito cósmico é sobre a
natureza da realidade última. Seres inteligentes através do universo são
confrontados com a imagem de Deus concebida na mente de uma criatura rebelde.
Portanto, a questão mais importante no nível cósmico tem que ver com a verdade.
Para uma resposta, nos volvemos a Jesus. Ele deu uma definição da verdade
inteiramente diferente, nunca dantes feita neste planeta: “Eu sou...a verdade”,
João 14:6, disse Ele. Esta pretensão chocante leva a algumas afirmações sobre a
verdade.
1. A Verdade é transcendental
A realidade última é achada fora do universo e não dentro de
sua unidade estrutural e funcional. Isto não quer dizer que não podemos
apreender alguns elementos da verdade através do uso de nossas faculdades
racionais. Podemos obter algum conhecimento. Contudo, conhecimento não é algo
que criamos mas algo que descobrimos. Esse conhecimento é fragmentado. A fim de
que seja realmente significativo, tem de ser posto dentro de um sistema de
coordenadas maior, provido pela verdade última.
Essa perspectiva nos é inacessível porque requer que
transcendamos o universo. Isso é simplesmente impossível. Mas a verdade desceu
até nós, entrou em nosso mundo na forma de uma pessoa, e disse: “Eu sou...a
verdade”. Sou o único capaz de integrar tudo dentro de um todo significativo;
porque “por Mim todas as coisas foram criadas, no céu e na Terra, visíveis e
invisíveis. Sou antes de todas as coisas, e em Mim tudo subsiste” (ver
Colossenses 1:16,17).
Esta afirmação de Jesus era um golpe penetrante ao que os
gregos chamavam de autárkeia ou suficiência própria. Eles criam que a
verdade era a manifestação da eterna, imóvel e imutável essência das coisas e
que os homens podiam descobri-la mediante análise racional. A verdade última
era localizada no mundo imaterial de ideias, que era formado por abstrações
racionais da mente humana. Em oposição a isto, Jesus proclamou que a verdade
está além do alcance da mente humana por si só; é uma revelação.
Dizendo: “Eu sou...a verdade”, Jesus rejeitou qualquer
tentativa de definir a origem, a natureza e o destino da raça humana de uma
perspectiva natural.
Ademais, Ele Se arrogava a verdade absoluta. Ele não disse:
“Sou uma dimensão da verdade, um aspeto da verdade, um elemento da verdade”.
Aquele que falou era o Eterno “Eu sou”, Deus em forma humana. NEle todo
conhecimento encontra seu centro e significado.
A Bíblia afirma que a verdade ou sabedoria só pode ser obtida
se a pessoa está disposta a reconhecer que “O temor do Senhor é o princípio da
sabedoria”. Provérbios 1:7. A Bíblia rejeita autárkeia como um caminho
à verdade. À pessoa imatura tentada a ser autónoma, vem o conselho: “Confia no
Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento”
(Provérbios 3:5). Isto é realmente difícil para a pessoa auto-suficiente.
2. A Verdade é uma Pessoa
Dizer que a verdade final está localizada além da esfera da
ação humana, é afirmar algo que não é popular ou facilmente aceito. A natureza
transcendental da verdade põe limite a nosso orgulho e tende a nos deixar
incomodados. Mas talvez ainda mais perturbadora à lógica humana é a afirmação
de Jesus de que nEle reside a verdade — a verdade é uma Pessoa.
A filosofia busca a verdade em termos de abstrações,
identificando a essência atrás do que experimentamos pelos sentidos. Mas Jesus
contradiz tais noções dizendo que a verdade não é uma coleção de conceitos
abstratos ou universais que podemos usar para integrar os fenômenos que
observamos. Ele sugere que tudo que veio à existência foi o resultado da
atividade da Pessoa da qual todas as outras pessoas derivam sua personalidade.
O que mantém o universo coerente é uma Pessoa — não uma lei, não um princípio,
não uma simples força.
A verdade como uma Pessoa significa que a verdade é racional
e inteligível. Sua apreensão não requer rejeição das faculdades racionais. Ao
contrário, através de nossa racionalidade podemos ter contato com a verdade.
Isto é possível porque Jesus Se colocou à nossa disposição. Portanto,
precisamos desenvolver nossas capacidades racionais ao máximo e fazê-lo dentro
da esfera da verdade provida por Aquele que disse: “Eu sou a verdade”.
A verdade como uma Pessoa também significa que o universo não
funciona de uma maneira mecânica, controlado por leis impessoais. Sim, há leis
que governam todos os fenómenos, visíveis e invisíveis. Mas essas leis são a
expressão da vontade e poder da Pessoa que é a verdade, que mantém o universo
coerente. “Só Tu és Senhor, Tu fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu
exército, a Terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e Tu
os preservas a todos”. Neemias 9:6. O verbo traduzido “preservar” pode também
ser traduzido por “manter em vida”. A vida é preservada pela vida; vida
inteligente é preservada pelo poder e a própria fonte de vida inteligente. A
realidade última cuida daquilo que existe; somente pessoas cuidam.
Verdade como Pessoa revela a natureza da realidade última:
Deus é a verdade. Esta verdade humilhou-Se a Si mesmo de modo misterioso e
entrou em nosso mundo na forma de um ser humano (ver Filipenses 2:5-11). A
realidade última não é mais exclusivamente transcendental porque Ele esteve e
está entre nós. João diz que nós O vimos “cheio de graça e verdade”. João 1:14.
Assim a verdade se expressa em humildade. Ele assume a forma do necessitado e
do humilde, e embaraça nosso orgulho e suficiência própria.
A natureza da verdade foi revelada não só na encarnação, mas
igualmente na cruz. A Verdade morreu a fim de preservar em vida os fenómenos, o
mundo criado. Aquele que mantém o universo coerente morreu, e não obstante o
universo não entrou em colapso e não morreu com Ele! Uma vez mais o inesperado
aconteceu, e foi revelado que a verdade pode Se sacrificar pela criatura e
continuar ao mesmo tempo a manter o universo coerente.
A verdade como Pessoa revela ademais a realidade sublime que
no centro mesmo do Ser divino só podemos achar amor, amor desinteressado (ver I
João 4:8). Na cruz a mentira foi desmascarada: a imagem de Deus e de Seu amor
criada por Satanás foi claramente demonstrada falsa. A verdade conquistou a
mentira de Satanás.
3. A Verdade deve ser apropriada
Quando Jesus disse: “Eu sou a verdade”:, Ele esperava uma
resposta. Visto que Jesus é a verdade, devemos nos relacionar com Ele não em
termos de objetividade científica, mas em termos de um relacionamento “Eu -
Tu”. Compreendemos as pessoas sendo envolvidas em suas vidas, participando com
elas na experiência de sermos vivos; mediante koinonia. Podemos ter
comunhão com a Verdade porque ela é uma pessoa. NEle está localizada a origem,
alvo e natureza de nossa existência e de todo mundo. É nEle que uma visão global
correta deve ser achada, porque é Ele que deu coerência e significado ao
universo.
O que é necessário é disposição de render a Ele nossa autárkeia.
Isto é de fato liberdade. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
João 8:32. Somos escravos do pecado que se manifesta em nossa pretensão à
suficiência própria. A mentira consiste na crença de que podemos achar nosso
caminho no universo, que podemos descobrir significado permanente para nossas
vidas mediante pesquisa científica, tecnológica ou filosófica. Submissão à
verdade nos liberta da estreiteza da suficiência própria e nos integra na
comunhão d´Aquele que disse: “Eu sou a verdade”.
A verdade é apreendida não só mediante um encontro pessoal
com o Senhor, mas também através de Sua Palavra. A verdade pode ser
conceptualizada, codificada e encarnada em palavras. Deus usa linguagem humana
apesar de suas limitações, como um veículo válido para a comunicação da
verdade. Isto ocorre sob a revelação e inspiração de Deus. Portanto, Paulo diz:
“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. II Timóteo 3:16,17.
A verdade determina não só nossa compreensão da realidade e
do mundo ao nosso redor, mas também o modo como vivemos. Toda
compartimentalização da verdade em termos de ética e religião, ciência e fé, é
uma rejeição do fato de que a verdade é uma Pessoa e de que é Ele que integra
todo conhecimento numa só totalidade significativa. Devemos viver segundo a
verdade (ver I João 1:6). Precisamos exibir a verdade tanto na conversação como
na conduta.
Conclusão
A história do pensamento humano indica que somos por natureza
pesquisadores. Sondamos a vastidão do universo, a profundidade dos oceanos.
Procuramos também penetrar no microcosmo. Exploramos todos os domínios do
conhecimento.
Contudo, nossa busca da verdade última findou. Sim, somos
ainda desafiados a buscar uma compreensão mais profunda da verdade, a explorar
suas formas ricas e complexas; mas a busca de sua essência findou. Findou
porque Ele veio a nós e disse: “Eu sou a verdade”. Sua declaração põe limites à
nossa suficiência própria, porque a verdade é transcendental, revelatória e
pessoal. E podemos apreender aquela verdade mediante uma comunhão pessoal com
Ele, e seguindo-O em obediência.
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